Machismo é um desafio social e de saúde pública porque gera a violência, diz pesquisador

Debate no auditório do Interlegis abordou machismo, desigualdade de gênero e os desafios da paternidade.
24/08/2023 10h55

Homem de verdade é corajoso, forte e não chora. A crença pode soar ultrapassada para alguns, mas ainda é a verdade de muitos brasileiros. Pesquisas mostram que 56,5% dos homens têm medo de expor anseios e dúvidas mesmo ao amigo mais próximo e 80% lidam com a alexitimia, a dificuldade de interpretar e expressar sentimentos e emoções.

A cultura do machismo e da desigualdade de gênero resulta em violência e tem conseqüências devastadoras principalmente para os próprios homens. Eles se suicidam quatro vezes mais que mulheres, estão mais expostos ao abuso de álcool e drogas e são 95% da população carcerária no Brasil.

O pesquisador Miguel Fontes,  na palestra “Equidade e paternidade: um olhar para dentro e para fora”,  promovida pelo Senado nessa segunda-feira (21) ressaltou que o machismo  é uma questão social, de saúde pública, econômica e transborda para a questão da segurança.

̶  Todos nós, de alguma forma, fomos algozes ou vítimas do machismo em alguma situação. Temos histórias tristíssimas sobre como o machismo influenciou nossas vidas – afirmou Fontes, que é fundador do Instituto Promundo – organização não governamental comprometida com a igualdade de gênero e a prevenção da violência pela transformação de masculinidades.

Durante o evento, organizado pela Coordenação de Atenção à Saúde do Servidor (Coasas), Fontes colocou como fundamental refletir sobre o processo de formação dos homens na sociedade. O ponto de partida, segundo ele,  é ter em mente que gênero é um conceito construído e que a rigidez imposta ao papel de cada gênero na sociedade cria grandes desigualdades sociais e econômicas – com efeitos danosos para crianças, mulheres e homens.

Nova masculinidade

Na vida adulta, a mudança começa com a autorreflexão, que fica mais fácil em grupos, com a troca de vivências sobre masculinidade. A paternidade, quando desperta o amor pelo filho, também representa um momento favorável a essa mudança de atitude. Por fim, a transformação pessoal pode permitir uma nova abordagem sobre a infância, com pais no papel de cuidadores ativos e semeadores de uma nova masculinidade nos futuros cidadãos.

Equidade

De acordo com o diretor de gestão de pessoas do Senado, Gustavo Ponce, debates sobre a equidade de gêneros tendem a ganhar cada vez mais força no Senado.

̶  Mais uma vez o Senado assume essa posição de se preocupar com as pessoas. A gente não trata os nossos colegas como recurso humano, a gente trata como pessoas e a gente quer que todos se desenvolvam no máximo de seus potenciais.

Vulnerabilidade

A entidade representada por Miguel Fontes, o Instituto Promundo, tem amplo reconhecimento por ações como o Programa P, uma parceria com o Ministério da Saúde voltada à formação para pais em situação de vulnerabilidade social e econômica.

A iniciativa busca promover a paternidade ativa por meio do ensino de atividades de cuidado e do estímulo à reflexão, apoiada na troca de vivências sobre masculinidade. De acordo com Miguel Fontes, a experiência resulta em maior igualdade de gênero e empoderamento feminino, além de contribuir para a redução da violência doméstica, a maior busca do homem por serviços de saúde e a participação mais efetiva dele na criação dos filhos.

Assista a entrevista completa clicando no link abaixo.